quinta-feira, fevereiro 26, 2004

A luz é como a água
Por Gabriel García Márquez



No Natal os meninos tornaram a pedir um barco a remos.

— De acordo — disse o pai —, vamos comprá-lo quando
voltarmos a Cartagena.

Totó, de nove anos, e Joel, de sete, estavam mais
decididos do que seus pais achavam.

— Não — disseram em coro. — Precisamos dele agora e
aqui.

— Para começar — disse a mãe —, aqui não há outras
águas navegáveis além da que sai do chuveiro.

Tanto ela como o marido tinham razão. Na casa de
Cartagena de Índias havia um pátio com um atracadouro
sobre a baía e um refúgio para dois iates grandes. Em
Madri, porém, viviam apertados no quinto andar do
número 47 do Paseo de la Castellana. Mas no final nem
ele nem ela puderam dizer não, porque haviam prometido
aos dois um barco a remos com sextante e bússola se
ganhassem os louros do terceiro ano primário, e tinham
ganhado. Assim sendo, o pai comprou tudo sem dizer nada
à esposa, que era a mais renitente em pagar dívidas de
jogo. Era um belo barco de alumínio com um fio dourado
na linha de flutuação,

— O barco está na garagem — revelou o pai na hora do
almoço.— O problema é que não tem jeito de trazê-lo
pelo elevador ou pela escada, e na garagem não tem mais
lugar.

No entanto, na tarde do sábado seguinte, os meninos
convidaram seus colegas para carregar o barco pelas
escadas, e conseguiram levá-lo até o quarto de
empregada.

— Parabéns — disse o pai. — E agora?

— Agora, nada - disseram os meninos. — A única coisa
que a gente queria era ter o barco no quarto, e pronto.

Na noite de quarta-feira, como em todas as quartas-
feiras, os pais foram ao cinema. Os meninos, donos e
senhores da casa, fecharam portas e janelas, e
quebraram a lâmpada acesa de um lustre da sala. Um
jorro de luz dourada e fresca feito água começou a sair
da lâmpada quebrada, e deixaram correr até que o nível
chegou a quatro palmos. Então desligaram a corrente,
tiraram o barco, e navegaram com prazer entre as ilhas
da casa.

Esta aventura fabulosa foi o resultado de uma
leviandade minha quando participava de um seminário
sobre a poesia dos utensílios domésticos. Totó me
perguntou como era que a luz acendia só com a gente
apertando um botão, e não tive coragem para pensar no
assunto duas vezes.

— A luz é como a água — respondi. — A gente abre a
torneira e sai.

E assim continuaram navegando nas noites de quarta-
feira, aprendendo a mexer com o sextante e a bússola,
até que os pais voltavam do cinema e os encontravam
dormindo como anjos em terra firme. Meses depois,
ansiosos por ir mais longe, pediram um equipamento de
pesca submarina. Com tudo: máscaras, pés-de-pato,
tanques e carabinas de ar comprimido.

— Já é ruim ter no quarto de empregada um barco a remos
que não serve para nada.
— disse o pai — Mas pior ainda é querer ter além disso
equipamento de mergulho.

— E se ganharmos a gardênia de ouro do primeiro
semestre? — perguntou Joel.

— Não - disse a mãe, assustada. — Chega. O pai reprovou
sua intransigência.

— É que estes meninos não ganham nem um prego por
cumprir seu dever — disse ela —, mas por um capricho
são capazes de ganhar até a cadeira do professor.

No fim, os pais não disseram que sim ou que não. Mas
Totó e Joel, que tinham sido os últimos nos dois anos
anteriores, ganharam em julho as duas gardênias de ouro
e o reconhecimento público do diretor. Naquela mesma
tarde, sem que tivessem tornado a pedir, encontraram no
quarto os equipamentos em seu invólucro original. De
maneira que, na quarta-feira seguinte, enquanto os pais
viam O Último Tango em Paris, encheram o apartamento
até a altura de duas braças, mergulharam como tubarões
mansos por baixo dos móveis e das camas, e resgataram
do fundo da luz as coisas que durante anos tinham-se
perdido na escuridão.

Na premiação final os irmãos foram aclamados como
exemplo para a escola e ganharam diplomas de
excelência. Desta vez não tiveram que pedir nada,
porque os pais perguntaram o que queriam. E eles foram
tão razoáveis que só quiseram uma festa em casa para os
companheiros de classe.

O pai, a sós com a mulher, estava radiante. — É uma
prova de maturidade — disse.

— Deus te ouça — respondeu a mãe.

Na quarta-feira seguinte, enquanto os pais viam A
Batalha de Argel, as pessoas que passaram pela
Castellana viram uma cascata de luz que caía de um
velho edifício escondido entre as árvores. Saía pelas
varandas, derramava-se em torrentes pela fachada, e
formou um leito pela grande avenida numa correnteza
dourada que iluminou a cidade até o Guadarrama.

Chamados com urgência, os bombeiros forçaram a porta do
quinto andar, e encontraram a casa coberta de luz até o
teto. O sofá e as poltronas forradas de pele de
leopardo flutuavam na sala a diferentes alturas, entre
as garrafas do bar e o piano de cauda com seu xale de
Manilha que agitava-se com movimentos de asa a meia
água como uma arraia de ouro. Os utensílios domésticos,
na plenitude de sua poesia, voavam com suas próprias
asas pelo céu da cozinha. Os instrumentos da banda de
guerra, que os meninos usavam para dançar, flutuavam a
esmo entre os peixes coloridos liberados do aquário da
mãe, que eram os únicos que flutuavam vivos e felizes
no vasto lago iluminado. No banheiro flutuavam as
escovas de dentes de todos, os preservativos do pai, os
potes de cremes e a dentadura de reserva da mãe, e o
televisor da alcova principal flutuava de lado, ainda
ligado no último episódio do filme da meia-noite
proibido para menores.

No final do corredor, flutuando entre duas águas, Totó
estava sentado na popa do bote, agarrado aos remos e
com a máscara no rosto, buscando o farol do porto até o
momento em que houve ar nos tanques de oxigênio, e Joel
flutuava na proa buscando ainda a estrela polar com o
sextante, e flutuavam pela casa inteira seus 37
companheiros de classe, eternizados no instante de
fazer xixi no vaso de gerânios, de cantar o hino da
escola com a letra mudada por versos de deboche contra
o diretor, de beber às escondidas um copo de brandy da
garrafa do pai. Pois haviam aberto tantas luzes ao
mesmo tempo que a casa tinha transbordado, e o quarto
ano elementar inteiro da escola de São João
Hospitalário tinha se afogado no quinto andar do número
47 do Paseo de la Castellana. Em Madri de Espanha, uma
cidade remota de verões ardentes e ventos gelados, sem
mar nem rio, e cujos aborígines de terra firme nunca
foram mestres na ciência de navegar na luz.


Dezembro de 1978.

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copiado e colado.

sábado, fevereiro 14, 2004

todo mundo alegre. sorrisos nos rostos. eh carnaval!

domingo, fevereiro 08, 2004

o mago alugou um apartamento na gervásio pires. apartamento style... mas n é dele que eu vou falar.
o apartamento veio junto com um armário bem antigo - uma lista telefonica dentro dele - e um sofá cama. eu sabia que era sofá cama pq jah tinha dormido num daqueles.
sala style. luzinha tb. e o sofá lá, sem ser cama pq a gente n sabia como transformava ele. começamos a desvendar.
puxa daqui, empurra de lá. nada de cama.
mas desvendamos uma coisa no mínimo estranha.
debaixo do estofado onde se senta, estava pregado um lápis usado mais ou menos pela metade. um lápis-de-cor azul, com sua ponta apontando pra baixo e sua base colada no estofado.
sexta-feira a gente n suportou e queimou ele vivo.

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

uns se mostram. outros se encolhem. eu fico na minha... soh esperando.
de fato.
somos adestrados.
desde que os dna's dos nossos pais se juntaram aos das nossas mães. e nos descobrimos seres humanos. o destino nos adestrou a sermos humanos. o cosmos nos adestrou a termos modismos humanos. falarmos uma tal língua. vestirmos uma tal roupa. usarmos umas tais ferramentas... umas tais ferramentas q usamos desde que os dna's dos nossos pais se juntaram aos das nossas mães. caso contrário não seríamos nada. se lutássemos constantemente contra o adestramento da raça humana, teríamos que, primeiramente, não falar... depois a gente ia perceber q não devíamos agir (nossos atos são adestrados?). ficaríamos parados. e também adestrados.

pois agora eu vô é dormir... que esse papo meu tah qualquer coisa...

*pra os que vieram parar aqui pelo /288clandestino, o texto que eu mencionei nem eh esse, apesar de este ser um tanto complementar de idéias. procuraê. vcs acham.
em breve, 'MCC Concluída com Sucesso'.
'xeu terminar de estudar q eu conto.

terça-feira, fevereiro 03, 2004

olhamos pra baixo. um sapato. sozinho. sem gente, sem pé, sem movimento. parado de frente pra igreja. eu tinha certeza q o espaço tempo errou. o sapato apareceu qd n devia. e ainda mais parou por ali, sem saber pra onde ir. daquele jeito q soh os deslocados sabem se portar.
filho da puta! parado ali. intrigando a gente. se ao menos se movesse, tomasse uma atitude. mas sua estaticidade física e instabilidade emocional n o deixava partir e nos deixava cada vez mais irritados.
e o fogo. pq um sapato e não uma caixa de fósforos? filho da puta! agora nos dava mais raiva. sonhávamos que o sapato finalmente se localizasse e se tornasse uma caixa de fósforos. mas ele n se moveu.

- filho da puta!

chutou com a força dos irritados. nesse momento um silêncio tomou conta. tudo se tornou cinza de repente. um alarme tocando ao fundo nos predizia a chegada indesejada. saímos. o ambiente conspirava. tudo era mais agressivo. o mesmo alarme q tocava ao chegarmos nos deixava angustiados agora. olhos atentos. ouvidos tb. o cachorro sentiu o cheiro. uivos de lua cheia em lua minguante. tensão.

- tamos indo pro lado errado.
- vamo voltar por essa rua?
- não, neh!

e o silêncio nos intrigava.

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

pensemos nos avanços tecnológicos como sendo símbolos de um alfabeto de tecnologia. ou seja, teríamos uma linguagem tecnológica formada por um alfabeto de tecnologias.
teríamos um alfabeto corrente de tecnologia.
assim como temos um alfabeto corrente da nossa língua portuguesa, da língua inglesa, da linguagem cinematográfica...
de repente chega alguém e cria uma gíria. todo mundo acha estranho. a princípio n quer usar. mas todo mundo começa a tirar onda, se divertir com a palavra nova. se torna uma nova palavra. todo mundo usa pra definir aquilo que é a gíria. mudou a linguagem corrente. qual a maneira mais fácil de dizer que um mouse de computador eh um mouse de computador? mouse de computador eh mais fácil de dizer pra definir um mouse de computador do que uma frase como: "interface de comunicação entre homem e máquina que serve para guiar uma seta na tela... e brá e brow..."
pois é. a gente importou o nome, neh. butou mouse mesmo. mas isso eh uma outra questão q n vem ao caso agora.
pois eh. quase todo mundo sabe o que eh um mouse e usa essa palavra. e vc fica dependente dela. nunca mais vai querer falar, ao se referir a um mouse: "interface de comunicação entre homem e máquina que serve para guiar uma seta na tela... e brá e brow..." aiai... acho que jah estou a meio caminho de onde eu quero chegar.
aí voltemos às tecnologias. elas eram parte de um alfabeto de tecnologias, neh... pois eh. o fogo. o homem descobriu o fogo. controlou a tecnologia. adicionou à sua linguagem de tecnologias. o homem n vive sem o fogo. abstraiu tanta coisa que fica difícil fazer as coisas sem contar com o fogo pra isso. eh como falar sem pronunciar palavras com a em língua portuguesa. imagina soh!
vo terminar por aqui. quem entender o q eu quis dizer eh pq mereceu. eu n to com cabeça pra concluir nada n. jah tah meio óbvio. boa noite.